6.04.2014

A Infância dos Impossíveis

Postado por Lua às 19:30
Quando eu era criança, costumava imaginar que se eu ficasse parada por um instante e conseguisse controlar minha respiração, eu seria capaz de sentir o mundo girando. Devagar, porém precisamente, conseguiria narrar cada movimento do planeta. Obviamente isso nunca deu certo. A questão é, quando eu era criança eu imaginava muito mais e acreditava muito mais nas forças impossíveis do que hoje. Não estou dizendo que sou cética, mas sim que fui moldada facilmente pelos padrões "necessários".

Penso na minha infância como um livro de contos clássicos infantis, como algo parecido com contos de fadas. Aqueles que todo mundo gosta, sabe? Mas que, aqui, só eu conheço. Minhas histórias são minhas crenças, tudo aquilo que o meu eu infantil conseguiu criar no ápice de sua meninice. Me sinto incrivelmente próxima do meu passado assim, não deixando com que ele escape por entre meus dedos, como se em algum lugar eu ainda fosse aquela menina. Quem dera se fosse! A felicidade de achar que existiam insetos gigantes do tamanho da minha perna, desconfiar que minha sombra estivesse viva como a de Peter Pan, pensar ver o espelho mostrar a língua para mim ao virar de costas... E, claro, sentir o planeta girando.

Sinto que as coisas possuíam um gosto diferente quando eu era pequena, um gosto de infância. Hoje em dia, ao entrar em contato com as coisas que me davam este gosto, tento inutilmente recuperar a memória dessas sensações. Eu tento e falho. Hoje em dia não é mais a mesma coisa. A infância é assim mesmo, extremamente engraçada, não? Acreditamos quando pequenos que somos incríveis, que nosso pai é um super-herói e nossa mãe uma rainha de uma terra distante e perdida. Acreditávamos em tudo que parecia impossível. Então crescemos, nos tornamos menos incríveis, vemos que nosso pai não tem super força e que nossa mãe nunca está usando uma coroa. Começamos a perceber que o impossível não tem lógica perante os conhecimentos e tecnologias que nos apresentaram ao longo de nossa vida, que o impossível é a ideia de uma mente infantil. Percebemos algo inevitável: crescemos.

A ideia de que o impossível não existe é mais impossível do que a possibilidade dele existir, é isso que penso. Quando vamos crescendo, a sociedade nos diz que é bobeira acreditar que nossas teorias de criança podem ser reais e assim admitimos isto como a grande verdade. Porém, a maior bobeira que podemos cometer, é ter fé que a vida é tão preta e branca. É como se acreditássemos então que nossa vida é bilateral, no entanto, não existe apenas o bem e o mal, por exemplo. Tudo possui vários ângulos. Sendo assim, por que não posso acreditar que minha sombra se mexe? Por que não posso acreditar que meu reflexo zomba de mim em um mundo paralelo? 

Quando eu era criança, acreditava em tudo. Eu imaginava, inventava e conseguia ver o mundo através dos olhares simples e repletos de beleza que só uma criança consegue. Hoje em dia, os conhecimentos que tive (e estou tendo) não apenas me moldam, mas também me complementam para que, de alguma forma, eu consiga tentar recuperar o meu olhar de criança. Enquanto não consigo, tento controlar minha respiração e ficar imóvel o maior tempo possível, quem sabe assim, eu consiga sentir o mundo girando.

0 comentários:

Postar um comentário

 

Diário da Lua Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos